WikiLeaks recorre ao blockchain do Bitcoin para proteger os Diários da Guerra do Afeganistão de Assange

O Bitcoin estava apenas começando em 2010, o ano em que Julian Assange divulgou os Registros da Guerra do Afeganistão. Mas é uma ferramenta que eventualmente ajudou — e ainda ajuda — o WikiLeaks a se manter vivo. 

A coleção de dezenas de milhares de comunicações internas do governo e militares dos EUA contribuiu para uma mudança na compreensão pública do que foi oficialmente chamado de Operação Liberdade Duradoura. Como colocou o New York Times, este “arquivo de seis anos de documentos classificados oferece uma visão crua e sombria da guerra no Afeganistão”, incluindo a extensão das baixas civis e o que foi eufemisticamente chamado de “interrogatório aprimorado”.

Embora tenham sido divulgados ao domínio público (primeiro para jornalistas, depois no  WikiLeaks.org ), ainda há a chance de que os Registros da Guerra do Afeganistão possam ser suprimidos. É por isso que Assange e seus amigos e familiares estão trabalhando para preservá-los de uma maneira que sempre permaneça acessível. 

Na quinta-feira, 76.911 desses documentos — ou seja, a extensão total do arquivo divulgado ao público — estão sendo inscritos na blockchain do Bitcoin usando uma ferramenta chamada OrdinalsBot. A cunhagem gratuita, disponível via ProjectSpartacus.org a partir de 5 de dezembro, visa preservar as informações que Assange e Chelsea Manning tornaram públicas.

O empreendimento

Garantir que os Registros da Guerra do Afeganistão não possam ser alterados ou censurados usando a blockchain é uma tarefa importante. O tamanho e o escopo do projeto provavelmente o tornam uma das cunhagens mais complicadas até agora. 

“Existem 76.911 arquivos, e como cada inscrição individual é feita por uma pessoa individual, ela abrangerá muitos blocos diferentes”, disse Toby Lewis, fundador do OrdinalsBot, ao The Block. “Acho que será um processo bastante longo para cunhar — como, isso não é uma coleção de 10 mil. Esperamos que seja um daqueles projetos icônicos ‘para sempre’.”

O Project Spartacus fornece a interface para as pessoas cunharem esses ativos. O protocolo Ordinals foi introduzido em 2023 para "inscrever" dados em sats individuais (também conhecidos como satoshis, a menor unidade de conta em BTC), tornando esses dados tão imutáveis quanto o bitcoin. 

O empreendimento não está sendo feito para arrecadar fundos diretamente para Assange, que atualmente busca um perdão total do presidente Joe Biden. Lewis observou que as únicas pessoas que recebem pagamento durante a cunhagem são os mineradores. 

Após a cunhagem inicial, a coleção do Project Spartacus será lançada no novo mercado Ordinals de Lewis chamado Trio em 12 de dezembro. O OrdinalsBot foi escolhido por sua reputação como o “grupo de infraestrutura mais robusto no Bitcoin”, disse Shipton. A plataforma já lançou projetos como Runestone, que tinha mais de 100.000 arquivos. 

“Sabemos que a infraestrutura que construímos pode lidar bem com as coisas”, disse Lewis, acrescentando que o OrdinalsBot opera um dos maiores nós de infraestrutura de Bitcoin. “Obviamente, se todos os 77.000 cunharem

ao mesmo tempo haverá algum atraso, mas estamos preparados para cunhagens em grande escala como esta.”

História de Assange com Bitcoin

Além das realidades de tornar os War Logs verdadeiramente resistentes à censura, a cunhagem é uma peça de declaração que dá à comunidade cypherpunk uma maneira de mostrar solidariedade e se engajar com o legado de Assange, disse Shipton. 

Ele observou que as taxas legais para libertar Assange foram superiores a $30 milhões, em grande parte pagas em doações de BTC e arrecadação de fundos via AssangeDAO e coleções de NFT.

As interações de Assange com o criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, são públicas e parte do folclore do Bitcoin. Até certo ponto, pode-se dizer que Assange acelerou o desaparecimento de Nakamoto do projeto depois que o WikiLeaks começou a solicitar doações em bitcoin, o que foi a primeira vez que muitos ouviram falar sobre a moeda digital. 

“Teria sido bom receber essa atenção em qualquer outro contexto. O WikiLeaks mexeu no vespeiro, e o enxame está vindo em nossa direção”, disse Nakamoto em 11 de dezembro de 2010, no fórum Bitcointalk.

“É por isso que é importante continuar falando sobre essas coisas, porque há muitas pessoas que estão entrando nessa órbita que não sabem essas coisas sobre a história do Bitcoin”, disse Shipton. “Duvido que Larry Fink saiba disso.” 

Shipton observou que manter o WikiLeaks funcionando enquanto enfrenta um “bloqueio bancário global” é uma “prova de conceito” da visão de Nakamoto para uma moeda resistente à censura. 

“É uma das forças do Bitcoin — ser capaz de resistir a ataques em nível estatal e continuar publicando”, ele disse.